Palestra proferida pelo
Advogado MARIANO TAGLIANETTI presidente
da ASSOCIAÇÃO PARANAENSE MMDC 32 E HERÓIS DO CERCO DA LAPA em homenagem à
epopeia da LAPA PARANAENSE DE 1.894 ressaltando
o discurso do emérito Dr. JOÃO CÂNDIDO FERREIRA por ocasião da inauguração da
estatua do General ANTÔNIO ERNESTO GOMES CARNEIRO, em nove de fevereiro de
1.928, mandada erigir pelo presidente do Estado do Paraná CAETANO MUNHOZ DA
ROCHA.
Saúdo a todos às Senhoras
e Senhores aqui presentes com especial menção ao comandante da Cmt do 15º GAC AP Ten Cel ÁTILA RICARDO LEME LARSEN,
poetisa VALÉRIA BORGES DA SILVEIRA e nobre empresário JOEL LOBO.
Em primeiro expresso os
cumprimentos do Cel. MÁRIO FONSECA VENTURA, presidente da SOCIEDADE DE
VETERANOS DE 32, o qual represento, na
qualidade de embaixador MMDC, pelo fato
de estar impossibilitado de viajar a estas plagas, por compromissos agendados, já no ano pretérito.
A DEFESA DA ORDEM
CONSTITUCIONAL REPUBLICANA DE 1.894 E 1.932.
Hoje, aqui neste teatro Dom João palco de acontecimentos
históricos que se verificaram nesta Lapa lendária, orgulho paranaense, por sua
contribuição sem precedentes em defesa da PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA
promulgada em 24 de fevereiro de 1.891, a
ASSOCIAÇÃO PARANAENSE MMDC 32 E HERÓIS DO CERCO DA LAPA, entidade cuja finalidade é dedicar-se à
HISTÓRIA DA BRASILIDADE, tem a HONRA de apresentar sua colaboração nestas
comemorações do CENTÉSIMO VIGÉSIMO QUARTO ano da EPOPÉIA acontecida nestas
plagas em 1.894, congratulando-se com os lapianos com o fato alvissareiro de
que doravante constará no CALENDÁRIO OFICIAL
DA REPÚBLICA a data de NOVE DE FEVEREIRO como “DIA NACIONAL DO CERCO DA
LAPA”.
O enunciado desta palestra A DEFESA DA ORDEM CONSTITUCIONAL
REPUBLICANA DE 1.894 e 1.932 no contexto HISTÓRICO CONSTITUCIONAL DA
NACIONALIDADE objetiva demonstrar o significado dessas páginas heroicas,
lançadas na história pátria por brasileiros que lutaram, firmando em nossa
trajetória social, o germe do respeito à BRASILIDADE CONSTITUCIONAL
REPUBLICANA.
Inicialmente assinalamos que esta exposição pretende
assinalar, com ênfase, o que em todas as ocasiões palestrando salientamos: o
imperativo de que estejam presentes a origem dos acontecimentos abordados. Eles
não podem ser distanciados do fato histórico em si a ser analisado. Esse princípio rege, em verdade não só fato
comum mas envolve também o de maior importância, no caso histórico. Toda e
qualquer conclusão sobre fatos históricos devem ser precedidas pela indagação
de suas origens, pesquisando-se as circunstâncias que determinaram a
problemática em tela. Partindo dessa premissa que não admite sofismas (...) é
preciso que nos atenhamos a ela sem conjeturarmos com a partícula apassivadora
“se” (...) .
Nessa linha de raciocínio salientemos os fatos que culminaram
na denominada revolução federalista.
Votada a primeira
constituição da República foi ela solenemente promulgada no dia 24 de fevereiro
de 1.891.
Assinala Rocha Pombo “ASSIM QUE PROMULGOU A CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA, CONVERTEU-SE A CONSTITUÍNTE EM ASSEMBLÉIA GERAL LEGISLATIVA A QUAL
ELEGEU O MARECHAL DEODORO PRESIDENTE DA REPÚBLICA E VICE-PRESIDENTE O MARECHAL
FLORIANO PEIXOTO”.
Advieram atritos entre os poderes legislativo (...) e o
executivo levando Deodoro a 03 de
novembro de 1.891 a decretar a dissolução
do Congresso. Achava-se o governo da instaurada ditadura em situação
desesperadora, quando na manhã de 23 de novembro a esquadra Nacional começou a
mover-se na Bahia da Guanabara, sob comando do contra-almirante CUSTÓDIO JOSÉ
DE MELO, intimando a deposição do governo com um tiro de canhão sobre a cúpula
da Candelária.
DEODORO NÃO TENTOU RESISTIR.
Reuniu o Ministério e renunciou ao poder entregando-o
incontinente ao vice-presidente da República, que era o Marechal Floriano
Peixoto.
O primeiro ato do Marechal FLORIANO PEIXOTO ao assumir o
Governo a 23 de novembro foi convocar o Congresso para uma reunião
extraordinária, resolvendo este a seguir polemica se deveria ou não Floriano
assumir a Presidência da República ou convocar novas eleições em vista do
artigo 42 da Constituição, pois não havia Deodoro concluído dois anos de
mandato, todavia o poder
legislativo decidiu que “A VAGA DO CARGO
DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, ABERTA A 23 DE NOVEMBRO DE 1.891, ESTAVA
DEVIDAMENTE PREENCHIDA PELA SUCESSÃO CONSTITUCIONAL DO VICE-PRESIDENTE A QUEM
CABERIA O RESPECTIVO EXERCÍCIO ATÉ 15 DE NOVEMBRO DE 1.894, TERMO DO PRIMEIRO
PERÍODO PRESIDENCIAL”
Estavam delineados os horizontes da chamada revolução
federalista com o concurso do levante da armada chefiada pelo contra-almirante
Custódio de Melo, em oposição à recém
CARTA CONSTITUCIONAL, dando guarida à revolta dos maragatos gaúchos que rebelavam-se
pela conquista de maior autonomia federativa e implantação do sistema
parlamentarista em substituição ao presidencialista, instaurado pela CARTA DE
1.891.
Sem o apoio da armada que tomou DESTERRO, atual Florianópolis, provavelmente
a revolta federalista estaria circunscrita ao estado do Rio Grande do Sul, isto
é, não transporia as fronteiras de Santa Catarina com a consequente invasão
de Curitiba por Gumercindo Saraiva. A estratégia do caudilho Gumercindo
Saraiva obedeceu ao plano de enviar o grosso de suas tropas por terra, enquanto
a Armada se prestava ao transporte de um contingente que desembarcou em
Paranaguá, o qual empreenderia a tomada da capital paranaense (...), por ter
expectativa o fortalecimento da marcha,
cuja perspectiva era invadir São Paulo, conquistando novos adeptos com a junção da tropa terrestre, e consequente
marcha vitoriosa visando depor o presidente constitucional Marechal FLORIANO
PEIXOTO.
O plano foi frustrado pela resistência heroica da Lapa que
durante 26 dias, de bravura indescritível, fizera com que os rebeldes
sangrassem e se desgastassem, sucumbindo o objetivo de invadir São Paulo e
marchar sob o Catete, depondo Floriano.
A CONSCIÊNCIA DA
NACIONALIDADE registra nessa HERÓICA EPOPÉIA EM DEFESA DA CONSTITUIÇÃO de
1.891, para sempre, o heroísmo de todos
que dela participaram.
Trago, após estas considerações, para apreciação de todos que aqui estão o
discurso pronunciado pelo emérito Dr. JOÃO CANDIDO FERREIRA – médico que
durante os 26 dias de luta assistiu aos que tombaram e aos sobreviventes
feridos, havendo prestado conforto ao General GOMES CARNEIRO nos últimos
momentos de sua existência terrena, por ocasião da inauguração da estátua deste
HERÓI em 09 de fevereiro de 1.928, a qual simboliza o heroísmo de todos que
estão imortalizados no PANTEÃO HERÓICO LAPIANO.
“ Se não estivéssemos
investidos da honrosa incumbência de representar, nesta solenidade, um grupo de
contemporâneos e participes dos tormentosos dias passados nas trincheiras, à
mira dos invasores, possuiríamos os títulos seguintes, que justificam a nossa
presença nesta tribuna:
o primeiro é ser lapiano,
e dos que mais querem à gleba em que nasceu; o segundo é ter sido o medico de
Carneiro nos derradeiros momentos de sua existência, constituindo-se dessarte o
depositário das últimas vibrações daquela alma de escol, dos extremos anseios
daquele coração que sempre palpitou ao influxo das causas nobres e justas;
enfim, ser oficial honorário do Exército e ter conquistado uma patente sob o
comando do chefe intemerato.
Não alego, Snrs., a
qualidade de ser ardoroso, entusiasta e sincero admirador do ínclito soldado,
porque não acredito que haja brasileiro digno desse nome, que não sinta
verdadeiro orgulho e comoção intensa ao
recordar a vida modelar daquele que foi cidadão de acrisolado
patriotismo, e soldado que nunca vacilou em colocar acima de seu bem-estar, e
até de sua vida, os deveres com todos os percalços de sua profissão.
Os próprios adversários
que com ele terçaram armas em campos de cruentas batalhas, nutriam um misto de
admiração e respeito para com aquele que era a antítese do nome que
trazia, porque só de leão é a bravura, a
resistência e intrepidez que patenteava nos prélios em que se envolvia.
“Não se iludam”, disse o General Piragibe a um grupo de
oficiais, quando marchavam para a Lapa, “não se iludam, porque o comandante da
praça é Carneiro só no nome”.
Se os próprios
adversários, se os inimigos que ele combateu com ardor, se curvam reverentes
ante os seus excelsos predicados, não será para estranhar, e menos para
censurar, o transbordamento dos corações amigos ao rememorarem os seus feitos
heroicos, a sua bondade inefável e a sua vida sem macula.
Este monumento não é
levantado nesta cidade que ele imortalizou e tornou lendária, convertendo-a em
nova Meca do patriotismo, por uma facção, por um partido político que se
chamaria ridículo se tentasse faze-lo,
mas pelo benemérito Governo do Paraná, que traduzindo o sentir e o pensar de
todos os patriotas brasileiros, resolveu
pagar uma divida de gratidão que a República havia contraído com o seu
salvador.
É, pois, digno de todos
os louvores o chefe do poder executivo que promoveu esta justíssima homenagem e
confiou ao talento de João Turin, consagrado artista patrício, a tarefa de
perpetuar neste bronze imperecível a figura tradicional de Carneiro.
A RESISTÊNCIA DA LAPA
SALVOU A REPÚBLICA
Não fosse a pertinácia
ao lado de um pugilo de bravos; não fosse a coragem indômita e o patriotismo de
Gomes Carneiro, que tinha o condão de fazer de cada soldado um lutador e de
cada lutador um amigo extremado, a corte federalista que vinha das bandas do
sul, talando como ciclone, teria nestas plagas uma vitória fácil e frutuosa como a de Cesar sobre Phárnaces, rei do Ponto, sintetizada pelo
celebre romano em três palavras apenas: “ Veni, vidi vici “.
Muito outro foi o
sucesso que aqui se realizou: a vitória do adversário custou tantas vidas de
pelejadores adestrados no manejo das armas, fez correr tanto sangue, que
Gumercindo Saraiva poderia ter repetido as palavras de Pyrrho ao triunfar em
Ásculo: - “Ainda outra vitória como esta, e estarei perdido”.
Em verdade, além do
grande numero de soldados dos mais pugnazes que pereceram durante o cerco,
enquanto nele se pelejava por dilatados dias, com ardimento e ousadia a causar
delírio, o governo federal teve tempo suficiente para aparelhar a esquadra
improvisada e organizar a defesa em terras da Pauliceia, que, consoante o que
se dizia, estava pronta para receber os revoltosos de braços abertos,
encaminhando-os para o coração da República, onde chegariam triunfantes.
Gumercindo Saraiva
devia ter em mente este fato, quando disse a uma das suas mais distintas
patrícias, então na capital do Paraná, e a cuja casa chegávamos em serviço
medico, apenas dela saia o denodado guerreiro: - “O maior erro da revolução foi
sitiar a Lapa, onde perdemos tanta gente e um tempo que nos era precioso para
alcançar o nosso destino. Hoje eu torço a orelha e não sai sangue”. Esta frase
do famigerado caudilho encerra claramente a decepção de não ter alcançado o
eldorado paulista e a dolorosa perspectiva de uma derrota que se lhe antolhava
bem próxima.
DE COMO SE JUSTIFICA A
INVESTIDURA DE CARNEIRO NAS FUNÇÕES DE COMANDANTE DAS FORÇAS QUE OPERAVAM NO
PARANÁ
Por que motivo foi
Carneiro escolhido para tão alta missão?
Floriano Peixoto,
possuidor de apurado tino, tendo necessidade de um oficial que fosse, ao mesmo
tempo, bravo, competente, dedicado e enérgico, para comandar as forças que
deviam operar no Paraná, e que se destinavam a desbaratar os federalistas,
quando não pudessem impedir a sua invasão pelo Rio Negro, não vacilou, um
instante, em confiar essa elevada e delicada incumbência ao Cel. Gomes
Carneiro, que possuía todos os requisitos para a bem desempenhar, como
brilhantemente o demonstrou.
Carneiro, quando assumiu
o comando geral das forças, não era um soldado bisonho no campo de batalha, não
era um neófito nos departamentos administrativos nem um noviço nos segredos da
estratégia; ao contrário, era um tipo perfeito de organizador e de chefe que
tinha o dom de fazer despertar em cada subalterno a mais acendrada dedicação à
causa que defendia.
Não havia covardes nas
fileiras sob seu comando. Tal era a influência que ele exercia no ânimo dos
combatentes, que todos, ardegos e impetuosos, queriam primar no cumprimento de
suas ordens. Dir-se-ia que de sua soberba personalidade se desprendia um
efluvio magico que até aos pusilânimes dava energia e coragem. E o seu valor,
como é fácil mostrar, vinha-se afirmando desde os inóspitos campos do Paraguay,
para culminar no sitio desta cidade, onde se encerrou, entre bênçãos da
República, o ciclo daquela existência toda dedicada à família e à pátria.
Quando rompeu aquela
guerra, que se prolongou por mais de um lustro, ele apressou-se em assentar
praça, em Janeiro de 1.865, como voluntário da pátria, não tendo ainda
completado seus 19 anos de idade.
Seguindo para o campo
de ação, a 5 de Março, tomou parte ativa em vários combates no Rio Grande do
Sul.
No território
paraguaio, começaram desde logo a chamar a atenção dos seus superiores, a
atitude característica e a feição distinta que aquele jovem soldado mostrava em
cada combate que se feria.
E o seu real e
indiscutível merecimento o foi elevado gradativa e galhardamente na hierarquia
militar.
A 14 de Fevereiro de
66, foi promovido a cabo de esquadra, e no mês, seguinte teve três promoções
por atos de bravura: - a 1º de Março, furriel; a 7, segundo sargento; e a 23,
primeiro sargento. A 2 de Maio, foi ferido em combate, baixando ao hospital. A
seis do mesmo mês foi promovido a alferes.
A 25 de julho, teve
alta do hospital, a pedido, desistindo de 6 meses de licença, concedida por
inspeção de saúde, para se tratar, no Brasil, de um ferimento, que lhe havia
deformado a mão esquerda.
Participou de quase
todos os grandes encontros com o
inimigo, e sempre impávido, reto e desprendido, como registram os anais dessa
guerra, que pôs relevo o mérito excepcional do soldado brasileiro e elevou bem
alto o nome de nossa pátria no conceito das nações civilizadas.
Na ocupação de
Curupaiti, no reconhecimento de Humaitá, na ponte de Itororó, no combate de
Lomas Valentinas e em tantos outros, lá estava Carneiro indefeso, destemido e
inflamado sempre de uma pugnacidade
invencível, que o patriotismo não deixava jamais arrefecer.
Diversas vezes fora
elogiado pelo seu “distinto comportamento, zelo, dedicação, entusiasmo e
valor”.
Em Lomas Valentias, foi
gravemente ferido, bem como no assalto à praça de Peribebuhi, onde sofreu
profunda contusão, e ainda assim continuou combatendo, como quem nada tivesse
sofrido. Este ato de estupenda calma e extraordinária firmeza, valeu-lhe
repetidos e calorosos elogios.
Regressando ao Brasil,
trazendo no corpo varias condecorações, representadas pelas cicatrizes, que o
fuzil, o sabre e a lança do inimigo nele haviam traçado indelevelmente,
matriculou-se, em 1.871, cheio de entusiasmo, na Escola Militar, com o intuito
de prosseguir no serviço da pátria. Ai
fez um curso dos mais brilhantes, marchetado, repetidas vezes, de episódios reveladores de grande capacidade, energia
e correção.
Nos prélios da
inteligência e na aplicação aos misteres do seu ofício, era quase
invariavelmente o PRIMUS INTER PARES.
Snrs., essas façanhas
inauditas da vida de Carneiro e tantas
outras que a exiguidade do tempo nos inibe de registrar, não significam que ele
fosse impelido ou arrastado pela ambição de receber a recompensa pelo seu
procedimento invulgar; mas, simplesmente o regozijo de cumprir o seu dever e a
alegria de satisfazer os elevados e nobres impulsos de sua alma de soldado e patriota.
Falando-nos a seu
respeito, disse o ilustre e íntegro Marechal Alberto de Abreu: “O que
caracterizava, principalmente, o caráter de Carneiro era a intransigência
associada à altivez de quem vale muito e tem consciência do seu valor”.
Em todos os relevantes
sucessos de sua vida, patenteia-se claramente o substrato de uma personalidade
que se extrema por uma nobreza inconfundível e por uma integridade sem jaça.
Ele era grande, em suma, porque dava naturalmente expansão aos seus insignes
sentimentos patrióticos, e não porque
tivesse os olhos voltados para os proventos que a cobiça impulsiona o
aventureiro a conquistar.
APRESTOS PARA O CERCO
Carneiro já havia
assumido o comando supremo das forças militares que operavam ao sul do Paraná,
quando, a 15 de janeiro de 1.894, foram vistos, nas cercanias desta cidade,
vários piquetes da força federalista em movimento desordenado e inexplicável.
No dia 16, a agitação e
a correria dos famosos ginetes gaúchos tornaram-se mais notáveis, fazendo-nos
supor que os revolucionários tivessem recebido notícia segura da aproximação do
reforço que Carneiro, ansioso, esperava do norte ou do sul, para onde enviara
emissários de inteira confiança.
Pura ilusão! Todo
aquele movimento febril e inopinado, que se assemelhava aos aprestos para o
êxodo, outra cousa não era que as derradeiras manobras destinadas a guarnecer a
Lapa, que ficava, desde então, completamente sitiada e encarcerada entre essas
fortes elevações do solo, para que a carnificina fosse executada com maior
facilidade e menor perigo.
E, assim, dentro de um
cerco que dia a dia mais se estreitava e mais angustioso se tornava, graças à
deficiência de munições e de pessoal, e em virtude da falência de esperança no
almejado reforço tantas vezes solicitado, pelejaram os bravos de Carneiro
durante 26 dias, com tal bizarria, com tal afinco e audácia, que até aos
próprios adversários causaram assombro.
Carneiro cercado de uma
aureola de bondade e de denodo, que o tornava o ídolo dos combatentes, aparecia
em toda parte, - animando, estimulando, elogiando, para que ninguém esmorecesse
no embate.
No dia 7 de Fevereiro,
às 6 horas da manhã, o troar de um canhão federalista anunciava o começo da
refrega.
Carneiro e Lacerda
percorriam os pontos mais vulneráveis, animando e incitando os soldados.
Constava que os
sitiantes envidariam tudo para romper o cerco. Custasse o que custasse,
blasonavam, nesse dia, a praça, até então inexpugnável, cairia em seu poder.
Era a última tentativa.
Carneiro, calmo e
iluminado de um fulgor sobre humano, não abandonava um instante os lutadores,
que se sentiam invencíveis ao receber o influxo do seu grande chefe e amigo.
Informado, as 9 horas,
de que a trincheira da rua da Bôa-Vista, junto à farmácia Westphalen, estava
mais um vez abandonada, por ter sido exterminada a sua guarnição, lá correu,
levando não só reforço de soldados, mas também o entusiasmo e a confiança que
sempre inspirava a sua presença.
TRINCHEIRA DA RUA DA
BÔA-VISTA, JUNTO À FARMÁCIA WESTPHALEN
Foi ali Snrs, que o
prélio chegou ao mais impressionante e indizível paroxismo; foi ali que uma
mesma bala fulminou um esforçado patriota e feriu gravemente um brioso oficial;
foi ali que as facções beligerantes, em último arranco, se confundiram num
entreverar truculento e feroz; foi ali que, por duas vezes, ficou a trincheira
desguarnecida e, por duas vezes, briosos servidores da legalidade vieram
oferecer os generosos peitos aos golpes do invasor, baqueando sorridentes, foi
ali, em suma, que Carneiro, qual Judas Machabeu, no auge da peleja, animando os
que lutavam, e exaltando os que caíam para não mais se erguer, teve o rijo organismo varado, de lado a lado
por uma bala de fuzil.
Que fatalidade, Snrs!
Quando, cheio de civismo ardente, blindado de coragem indomável e inflexível, ele
tomava todas as providências para que a vitória coroasse aquele inenarrável
sacrifício dos sitiados, eis que uma bala certeira atravessa aquele organismo
que parecia invulnerável.
Ereto, estoico,
sobranceiro, sem o menor queixume, sem uma imprecação sequer, comprimindo,
apenas, a sede do ferimento com aquela mão que uma bala paraguaia havia já
deformado, pediu que o acompanhassem até a casa em que estávamos residindo.
E a todos os que o
inquiram sobe o seu estado de saúde, ia para logo dizendo que o ferimento não
tinha a menor importância, era simples contusão, e que breve estaria ao lado
dos bravos camaradas para festejar a vitória da legalidade, que seria a pascoa
da República livre dos fariseus. Pediu-nos que o examinássemos e que, qualquer
que fosse a intensidade do ferimento, dicéssemos a todos, invariavelmente, ser
leve e sem a menor gravidade.
-Nesse momento, Snrs, o
que se passava naquela trincheira onde canhões rugiam como panteras
sanguisedentas, os fuzis explodiam tétricos, as balas detonavam mortíferas, era
tal amalgama de ímpetos, de valentia, de bramidos e de cólera, que se não pode
descrever o espetáculo medonho e pavoroso. Era o homem que se transformava em
fera, era o soldado que espalhava o excídio e extermínio naquele pugilato
homérico em que os ardegos combatentes se esfacelavam num ímpeto selvagem,
abrasados de uma fúria insopitável.
Bravura de parte a
parte, heroísmo de todos os lados, desapego à vida horrivelmente perturbador e
caligante, - é que ali espadanava de
todas as feridas a sangueira rutilante de intrépidos e valorosos filhos da
mesma pátria heroica e gloriosa.
DEPOIMENTO DE UMA
TESTEMUNHA
Apresentando-vos agora,
uma fotografia tosca, sem o mínimo retoque mas muita expressiva, do que aí se
passou, rendemos ao mesmo tempo saudoso preito ao Cel Líbero Guimarães que, com
inexcedível dedicação, acompanhava a
Carneiro, como um dos ajudantes de ordens.
Líbero Guimarães, em depoimento
requisitado pelo Ministério da Guerra, assim relata, sem atavios, o que se deu
na trincheira fatídica.
“Depois do triste
acontecimento, o Cel. Lacerda, que pressuroso, se mostrava em todos os lugares
onde se combatia, mandou vir um reforço, em socorro desse posto, seguindo para
a casa do médico, acompanhando ao Cel. Carneiro. O fogo continuava cerrado,
produzindo mortandade em nossas forças, já muito resumidas. Nessa ocasião caiu,
a meu lado, atravessado por uma bala, o 2º Tenente Lebon Regis, que não havia
abandonado o seu posto na trincheira, erguendo vivas à República, ficando por
essa razão sem comandante a boca de fogo, cuja guarnição estava então quase
toda morta. Com o reforço pedido pelo Cel. Lacerda, veio o Cap. Sisson, que,
tomando conta da peça, a carregou atirando contra a casa donde nos atacavam, conseguindo
dar por esse meio tempo aos nossos soldados a arrombarem as portas e entrarem
no prédio, travando-se dentro uma luta terrível, corpo a corpo, desbaratando-os
completamente, ficando em nosso poder o único ponto que esta ainda oferecia
resistência”…
Às 2 da tarde desse dia
funesto e lúgubre, após 8 horas de fogo vivo e
incessante, que transformara em vulcão esta cidade, os sitiantes em
verdade recuaram desorientados e assombrados de tanto denodo, deixando o campo
coalhado de cadáveres.
Logo depois desse
embate ciclópico, que glorificou a impavidez de tantos patriotas obscuros que tombaram galhardamente com o
nome da legalidade na boca o Cel. Serra Martins procurou Carneiro e, narrando
em entusiasmo a estonteante vitória dos sitiados, disse, com vivacidade e já
pronto para se retirar: “Cel. Suas
ordens?” Carneiro, com a máxima energia de que ainda era capaz, respondeu ato
continuo: - “A ordem é uma só – resistência, resistência a todo transe”.
Decorridos alguns
instantes, chegou o Cel. J. Lacerda, e Carneiro, no leito de morte, recebeu-o
prazenteiramente com esta frase, que vale por uma apoteose: “Eu tenho a glória
de descobrir no Paraná um verdadeiro herói – o Cel. Lacerda”.
Era, de fato, esse
inolvidável paranaense político de fino atilamento e vasto prestígio, lapiano
de enorme influência, que conseguiu, sem dificuldade alguma, reunir nesta
cidade um batalhão de patriotas destinados a defender a legalidade, os quais no
cerco se bateram como legítimos e experimentados veteranos.
Sempre animado, sempre
esperançoso e cheio de gratidão aos nossos cuidados e aos do seu esforçado
enfermeiro o industrial José do Amaral, Carneiro não manifestou jamais a menor
duvida quanto ao triunfo completo da causa que defendia, porque era a causa da
lei.
Na mais rigorosa
vigilância por parte dos sitiados e sob intermitentes disparos dos sitiantes,
passaram-se os dias 7, 8 e 9 de Fevereiro, até às 19 horas, quando concitando
sempre os camaradas a não abandonarem as trincheiras, expirou sem um gemido e
sem uma contração que denotasse padecimento. Assim também expirara, no dia
anterior, o impertérrito Cel. Dulcidio Pereira.
Tendo desaparecido o
meridiano que orientava aquela coletividade em constante agitação, havendo-se
detido as irradiações da estrela polar que mantinha a harmonia e o ritmo
naquela massa heterogênea e reduzida,
não se encontrou caminho que não fosse dar na rendição. E lá nós fomos ter a 11
de Fevereiro de 94.
RELIGIOSO E LEGALISTA
Snrs. Carneiro, soube ser um espírito iluminado e culto, era
religioso e disciplinado. Cria em Deus e acatava a lei. Repetidas vezes, de
seus atos destilava a suavidade de uma crença religiosa profunda, mas sem
alarde.
Era religioso, não
fanático. O fanatismo é a penumbra que deforma o contorno dos fatos e turva a
limpidez da verdade.
Carneiro tinha, pois
dois cultos a que prestava sincera vassalagem: - A RELIGIÃO E A PÁTRIA.
O símbolo do primeiro
era NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO, E O SEGUNDO ERA A LEI.
Se a lei, Snrs. fosse
sabiamente cumprida, como ele pensava, e por ela os detentores de qualquer
parcela do poder pautassem os seus atos, não a transformando em leito de Próculo
(...) para os díscolos e desafetos e em cama fofa para os apaniguados e amigos,
a existência dos pequenos e a dos grandes correriam suavemente, sem
reveses em atritos, e a sociedade não
sofreria os danos e abalos da reação que
a injustiça fatalmente desperta. A lei
não é somente, como disse Colidge, no 6º Congresso Pan-americano, recentemente
inaugurado em Havana, o refugio dos fracos e dos oprimidos: - é também a força
dos poderosos e o prestigio dos grandes. Se a formula – prestigio à lei – que
serviu a Victor Hugo para traçar um dos mais comovedores capítulos de sua obra
imortal (...), fosse o lema de todo cidadão, qualquer que fosse a sua
hierarquia social, o desforço reacionário e a revindita, que costumam percorrer
toda a gama do desvario, não poderia alçar o colo e pôr em pratica a sua ação
nefasta, que começando na discórdia, pode ir ao exterminio.
CONDIÇÕES ESTRATEGICAS
DA CIDADE
Grave acusação se
formulou por se haver o Cel. Gomes Carneiro deixado ficar, á espera do inimigo,
nesta cidade, cuja topografia, a qualquer luz que seja considerada é a menos estratégica possível.
Basta olhar para esses
montes, arbustos uns e outros cobertos de alta vegetação, que lhe ficam a
cavalheiro, e donde os sitiantes podiam, sem grande risco, metralhar os
sitiados, para dar razão aos que assim pensavam. A increpação era, pois,
inteiramente bem fundada; mas o chefe das forças armadas, como tivemos ocasião
de nos certificar, não era responsável por esse erro, que tão caro nos custou.
Tendo Carneiro recebido
ordem para acampar nesta localidade e preparar-se para rechaçar os invasores
que se aproximavam, fez ver ao
Presidente da República os múltiplos inconvenientes de se imobilizar nesta
situação, onde tudo era desfavorável á tropa e aos fins a que se destinava o
exercito legalista.
A resposta que obteve,
decisiva, foi para não abandonar a cidade, onde devia aguardar o reforço que
lhe chegaria sem tardança.
Soldado disciplinado,
sabendo que a ordem do superior se cumpre e não se discute, aqui ficou, MAU GRADO SEU, e contra a expectativa de
muitos oficiais. Se o Marechal Floriano, grande admirador de Carneiro,
conhecesse a péssima posição em que deixava o vero servidor da República, por
certo consentiria que ele fosse em
campo raso enfrentar o inimigo.
Carneiro necessitava de
espaço amplo, lato, para preparar e desenvolver um ataque formidável, onde
então poderia patentear, em toda sua plenitude, a tática de emérito capitão, a
sua atividade assombrosa e a sua
intrepidez indômita.
A águia, que devia
percorrer a amplidão em largos vôos e escolher um espaço dilatado para
enfrentar o inimigo, ficou enclausurada entre muralhas que delimitavam um
retalho de terreno, e ai encontrou ao lado de tantos lutadores, o seu último
repouso.
CAUSAS DA INVASÃO FEDERALISTA.
Logo após a capitulação
da Lapa, um dos mais graduados oficiais federalistas foi visitar a casa donde
havia falecido o Cel. Carneiro, com o intuito não só de verificar a exatidão do
seu desaparecimento, que se supunha simulado, senão também para receber os
despojos opimos do invicto soldado que
ali havia exalado o derradeiro alento.
Tendo respondido a
varias perguntas do famoso maragato, ousamos, por nossa vez, interroga-lo desta
forma: -
“Coronel, o chefe
supremo do partido federalista, no Rio Grande, declarou, em recente manifesto,
que os revolucionários não depunham as armas, não abandonavam o campo da luta,
enquanto estivesse vivo o tiranete Júlio de Castilhos.
Ora, Júlio de Castilhos
já está governando o Rio Grande, cada vez mais forte e mais prestigiado. Como
é, pois, que os Snrs. abandonam aquele Estado, invadem o Paraná, que nada tem
com a revolução e vêm atacar-nos em nossos próprios lares?
Retorquiu-nos com a sua
calma habitual, imutável, ainda quando mandava decapitar prisioneiros;
“O ideal revolucionário
é hoje muito mais amplo, a nossa ação libertadora é mais patriótica. Vamos até
ao Rio de Janeiro, e do Itamaraty (...) arrancaremos Floriano Peixoto, porque a
vida hoje no Brasil é incompatível com o governo desse tirano. Pelejamos aqui,
porque não nos deixaram livre a passagem para S. Paulo, onde vamos ser
recebidos de braços abertos, e onde teremos todos recursos para seguir para a Capital Federal e tomar
conta do governo. Os pica-paus da Lapa retardaram a nossa marcha”.
Em suma, vendo os
chefes federalistas que os seus recursos estavam quase esgotados para sustentar
a luta no Rio Grande, e acreditando nas informações de correligionários deste
Estado, que aqui viriam encontrar facilmente todos os meios para prosseguir na
campanha libertadora, para cá se encaminharam confiantes, não sonhando com a já
hoje histórica resistência dos pica-paus engaiolados nesta praça, resistência
que, incontestavelmente, foi a causa precípua do malogro da insurreição.
Eles nem de leve
imaginaram que, irmanados, nesta santa cruzada, militares e civis levariam a
audácia, na defesa das trincheiras, ás raias da insânia.
Obregon, “ o maior
gênio militar do México”, disse recentemente que “cada dia que passa mais se
convence de que a força militar de uma nação reside na coragem dos civis, dos
cidadãos da República”.
Aqui, neste rincão
paranaense onde se iniciou o epílogo da revolução de 1894, Obregon teve a
confirmação de seu modo de sentir em relação ao valor dos patriotas estranhos à
carreira militar.
Em verdade, durante o
cerco patentearam uma coragem indomável – Lacerda, João Pacheco, Líbero Guimarães, AMYNTAS DE BARROS, José Charlot, Fidencio Guimarães,
Henrique José dos Santos, Otto Rochendorf, Faustino Riola, Emilio Blum e tantos
outros, todos civis os quais fizeram jus á calorosa admiração de um militar do
estofo de Gomes Carneiro.
DOIS HERÓIS EM UM SÓ
CORPO
Snrs. Carneiro
representou, ´por si só, em terras do Brasil, o papel de duas fulgurantes
personalidades que cintilaram – uma, na história fascinadora da França (...), e
outra, nos fatos da cavalheiresca Hespanha(...): Bayard e Palafox.
De fato, Bayard
imortalizou-se pelo arrojo com que pelejava e pela magnanimidade após as
vitórias, Seu coração era um sacrário de energias e de bondade. Sua alma era um
repositório das mais acrisoladas virtudes.
Palafox, no sitio de
Saragoça, impoz-se á admiração de todos
pelo ardor e patriotismo com que se bateu em defesa da cidade gloriosa.
Não tinha momentos de
repouso e nada o entibiava, nada o detinha no afam de libertar a praça do
angustioso cerco.
Pois bem: - Carneiro
foi ao mesmo tempo Bayard e Palafox: - valente e generoso como o primeiro,
intrépido e patriota como o segundo.
PELO DEDO SE CONHECE O
GIGANTE
Os homens
verdadeiramente grandes não necessitam, para se extremar das mediocridades, que
se lhe recordem todos os feitos vultosos e memoráveis; basta algumas das
mínimas ocorrências de sua vida para os
caracterizar de modo inconfundível. Percebe-se o forte latejar do pulso do
gigante, ora em um simples episódio, ora em uma frase incisiva e oportuna.
Assim, “à bala” de
Floriano Peixoto, ficará consignada na história com a excelsa consubstanciação
do destemor irreprimível e do patriotismo exaltado, capazes de salvar e
glorificar qualquer nação.
Carneiro deixou também
uma bela coleção dessas pequenas, porém grandíloquas amostras do seu gênio, que
assinalam uma época e fixam um perfil para todo o sempre, as quais pretendemos
dar à estampa quando para isso houver lazer.
O MONUMENTO RESGATA
DIVIDA E É PENHOR DE CONCORDIA
Snrs. Este monumento
não foi erigido nesta praça para servir de
abantesma bélico, destinado a
glorificar a carnificina que empapou de sangue esta cidade, nem tão pouco para
reavivar e perpetuar os soluços convulsivos, os gritos lancinantes e os gemidos
abafados dos que aqui sofreram e dos que aqui baquearam.
O supremo magistrado do
Paraná não pretendeu, como disse Carlos de Laet, a respeito do que se tentou
fazer em S. Paulo, em homenagem á legalidade, “consubstanciar em faustoso
monumento publico a vitória dos legalistas sobre aqueles dos seus compatriotas
que, obedecendo a sugestões diversas, acreditaram servir a verdadeira causa
nacional com a deposição do governo...”
Nada disso; - até
porque a legalidade não triunfou aqui a 11 de Fevereiro.(...) O seu intuito
elevado e digno de encômios foi, sem duvida, satisfazendo a aspiração dos
nossos queridos patrícios, pagar uma
dívida de gratidão que a República havia contraído com um dos seus mais fieis e
devotados servidores que baqueou sobranceiro para que ela se erguesse avante.
A postura que ele
mantem ali, ereta, firme, resoluta, parecendo dizer com entranhada convicção: -
“Aqui não entrarão”, - deve despertar na alma de todos os brasileiros, amigos
da sua pátria, o desejo ardente de seguir a trajetoria deslumbrante desse
estrategista viril e impoluto, que salvou a nação do maior inimigo que a podia
empolgar – a anarquia.
Acaba-se de fazer, como
último tributo de vassalagem ao espírito de Carneiro, aquilo, justamente, que o
duque de Caxias desejava se fizesse no Rio Grande para se comemorar a vitória
dos legalistas contra os denominados Farrapos.
“O que se deve
celebrar” disse Caxias “é uma missa em que, co-irmanados, todos os brasileiros
possam chorar os amigos que perderam e pedir a Deus o acabamento das guerras
civis”.
Enfim, Snrs. Esta
estatua que de per si era bastante para constituir a fama de João Turim, se ele
já não fosse um artista de renome, não foi aqui erigida para eterno vilipendio
dos vencidos, nem esplendente glorificação dos vencedores, porque todos os que
se aqui bateram, gregos e troianos(..),
o fizeram com heroísmo e extremo devotamento aos ideais políticos que
abraçavam. Ela vai ficar aqui, guardada pelo carinho dos lapianos para que os
brasileiros, inspirando-se no exemplo de Carneiro, se conservem irmanados na
aspiração suprema de servir com desinteresse e com ardor a nossa pátria,
elevando-a ao fastígio a que ela tem
direito”.
A defesa da ordem republicana estatuída pela Carta de 1.891
foi efetivamente defendida pela heroica resistência da Lapa contrapondo-se aos
argumentos dos federalistas e do inconformismo do contra-almirante Custódio
de Melo, uma vez que os congressistas haviam legitimado a presidência de FLORIANO após a
renúncia de DEODORO.
Durante os quarenta e
hum anos de vigência dessa primeira constituição Republicana (1.891/1.930) transcorreram
INTERNAMENTE várias revoltas: a do
Contestado (1.912 / 1.916); a de Canudos (1.896 / 97); a tomada dos quartéis de
São Paulo (1.924)... e no término de sua égide a revolução de 1.930(...) contra
o presidente WASHINGTON LUÍS, impedindo a posse do constitucionalmente eleito
JÚLIO PRESTES; EXTERNAMENTE a revolução menchevique/bolchevista dita comunista
na Rússia de 1.917; a primeira guerra mundial (1.914 / 1.918); e a quebra da
bolsa de Nova York (1.928 / 1.929).
Vitoriosa essa propalada revolução de 1.930 (...), deposto o
presidente, frisemos, constitucional WASHINGTON
LUÍS, seu líder Getúlio Vargas sem convocar a Constituinte invalidou a
Carta de 1.891, sem convocar a necessária CONSTITUINTE, compromisso que
assumira com a ALIANÇA LIBERAL formada pelo PARTIDO DEMOCRÁTA PAULISTA, MINAS
GERAIS E PARAÍBA, ultrajando a DEMOCRACIA REPUBLICANA BRASILEIRA, afrontando o
princípio da constitucionalidade vigente desde, observe-se, a CONSTITUIÇÃO
IMPERIAL DE 1.824 (...), passando a governar DITATORIALMENTE com o chamado
grupo dos militares OUTOBRISTAS que em verdade haviam sido desterrados pelo
presidente ARTHUR BERNARDES após o indisciplinado chamado levante dos 18 do
forte de 1.922 (...).
Diante desse retrocesso constitucional os BRASILEIROS
PAULISTAS se levantaram em 09 de julho de 1.932, após o assassinato de MARTINS,
MIRAGAIA, DRAUZIO E CAMARGO, em plena praça da República – São Paulo por forças
fieis ao ditador.
Entre as páginas heroicas dessa revolução citaremos em
homenagem a todos os seus heróis JÚLIO MARCONDES SALGADO, General comandante da
Força Pública Paulista, cujo curriculum
muito se assemelha ao do General ANTONIO ERNESTO GOMES CARNEIRO ambos
promovidos ao generalato post-mortem. Cabe a esta altura a menção de que o
EXÉRCITO em São Paulo e Mato Grosso apoiou a REVOLUÇÃO, A REVOLUÇÃO DE
BRASILIDADE PAULISTA DE 1.932, em verdade não deveria ter acontecido. Ao
desfralda-la SÃO PAULO FICOU SÓ, apenas
com o apoio de MATO GROSSO, uma vez que o compromisso de Minas Gerais e Rio
Grande do Sul de apoia-la fora quebrado por seus governadores OLEGÁRIO MACIEL e
FLORES DA CUNHA respectivamente. Assinale-se que no Rio Grande do Sul contra a
decisão de Flores da Cunha, foram abertas trincheiras em Porto Alegre, após o
manifesto da FRENTE ÚNICA GAUCHA DE INCONDICIONAL APOIO À SÃO PAULO subscrito
por BORGES DE MEDEIROS (...), RAÚL PILLA, BATISTA LUZARDO, LINDOLFO COLLOR,
entre outros, dominadas pelo Exército sob comando de Flores da Cunha.
Após quase três meses de luta heroica (9 de julho a 1 de
outubro), de 1.932, São Paulo que enfrentara o exército comandado pelo General
GOIS MONTEIRO, assina armistício.
Os BRAVOS DE 32 foram vencidos, tal qual operou-se com os
BRAVOS DA LAPA, todavia, se vencidos pelas armas, foram vitoriosos pelas causas
defendidas.
Na CONSCIÊNCIA DA NACIONALIDADE, indelével, para todo o
sempre, estarão consignados as batalhas
em defesa da CONSTITUIÇÃO de 1.891 e consequente mantença do sistema
presidencialista, consolidando o Marechal
FLORIANO PEIXOTO, presidente da república, pela resistência heroica da
LAPA comandada pelo insigne patriota ANTONIO ERNESTO GOMES CARNEIRO, e a volta ao RGIME CONSTITUCIONAL pela REVOLUÇÃO
CONSTITUCIONALISTA DE BRASILIDADE PAULISTA DE 1.932, que obrigou o ditador a
convocar a CONSTITUINTE de 1.934.
Na CONSCIÊNCIA DA NACIONALIDADE o denominador comum entre
a RESISTÊNCIA DA LAPA DE 1.894 e A REVOLUÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE PAULISTA
DE 1.932, tornou-se realidade histórica, sem paralelismo no seio da nacionalidade.
Lapa, 19 fevereiro de 2.018
Mariano
Taglianetti – presidente Associação Paranaense MMDC 32 e Heróis do Cerco da
Lapa, registre-se também em homenagem ao
recém anunciado “DIA NACIONAL DO CERCO DA LAPA